No último dia 19 de outubro, fui ver uma exposição da artista americana Laurie Anderson no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro de São Paulo.
Entre diversas instalações, fotografias e escritos em parede, uma me chamou especial atenção. Dizia o seguinte: "Uma pessoa morre três vezes. A primeira quando o coração para de bater. A segunda quando enterramos o seu corpo. E a terceira quando alguém diz o seu nome pela última vez."
Nesta ocasião fiquei particularmente feliz, pois eu sempre imaginara que a morte definitiva de uma pessoa só ocorresse mesmo quando seu último amigo, parente ou conhecido querido morresse também, porque eu sempre ouvira falar que as pessoas mortas permaneciam vivas na memória das pessoas queridas.
No dia 24 de outubro eu recebi uma mensagem eletrônica de um francês, em resposta a uma indagação minha, me informando que meu amigo Christian Cordonnier, que não mais atendia às minhas chamadas ou respondia às minhas mensagens, havia morrido há quase um ano.
Apesar de um certo temor, sabendo que ele enfrentava um câncer, eu tinha grandes esperanças que ainda estivesse vivo. Imaginava estar ele vivendo uma depressão. Nossas últimas conversas haviam sido breves. Esperava ainda poder conversar com ele. Imaginava que ainda voltaria a escrever em francês para ele e ele me responderia então em português, para que corrigíssemos a escrita um do outro, como fazíamos de vez em quando. A notícia portanto foi um choque para mim.
Mas ainda que não possa recuperar a alegria dessa amizade sincera, vou escrever e dizer o seu nome, e não será a última vez, para que permaneça ainda por muito tempo vivo: Christian Cordonnier. O Sapateiro, como gostava de dizer (cordonnier significa sapateiro em francês), Cristiano, o baterista de Nantes, o francês mais brasileiro de toda a França. O amigo de uma vida. Christian foi quem me ensinou a diferença entre au revoir, à bientôt e à tout-a-l´heure, expressões que eu usava indistintamente. Assim não vou dizer adeus, mas simplesmente olá.
Salut Christian Cordonnier.
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